O silêncio como refúgio, a música como companheira.

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Coral: uma experiência de vida



Quantas vezes em nossas vidas podemos nos envolver com um projeto criativo, que almeja não somente a satisfação pessoal, mas a harmonia, a cooperação e a beleza? Raras oportunidades que acabam por forjar um tempo próprio e que tornam possível a suspensão dos dilemas cotidianos, como um verdadeiro encanto. Participar de um coro é uma dessas experiências.

Diferentemente de outras atividades coletivas, até mesmo dos esportes, a música feita em conjunto exige além de integração, a sujeição dos egos dos participantes, para que um todo, uma nova e original personalidade, engendrada com coesão, possa agir e desempenhar seu papel. Um coro sem essa característica chama atenção não pela beleza do conjunto e obra interpretada, mas por evidenciar a dificuldade em conter a vaidade que cada um de nós traz dentro de si e que, por vezes, sabota o projeto coletivo. O que nos faz lembrar que o sentimento ético deve permear qualquer ação humana, inclusive a ação musical.

O canto coral constitui um exemplo magnífico de sinergia, da coordenação de esforços cujo resultado é expressivamente maior que a soma de cada um dos seus elementos. Um grupo ainda que reduzido de cantores forma um universo de nuances sonoras capaz de remeter o público ao êxtase. Talvez, por deixar claro que a união de homens de boa vontade pode resultar em algo mais proveitoso que a força física e a demonstração de poder. Talvez, por suscitar emoções e reflexões a partir da brisa efêmera e vital que emana de cada um dos “encantadores”.

A música coral pode ser uma grande experiência para nossas vidas, se estivermos atentos aos seus requisitos, que incluem além de muita dedicação – para desempenhar com proficiência suas atribuições rotineiras (como em qualquer outra atividade) – uma grande dose de tolerância, confiança e respeito mútuos, que resultam em momentos de integração, elevação e, porque não, descontração, enquanto atinge, concomitantemente, seus objetivos.

Estes são os grandes ensinamentos dessa experiência: que é preciso voltar a atenção para si (não buscar atenção do outro), perceber o que pode oferecer ao grupo (não o que o outro não consegue oferecer ainda ao grupo), fazer sua autocrítica e usar de solidariedade para que todos cresçam. Como já argumentado, não há lugar para egoísmos e egocentrismos, mas sim para conquista de novos valores, que promovam a diferença e resultem em um ganho exponencial para o coral.

Esta harmonia não seria viável em todas as manifestações sociais?